Continuando o assunto de ontem da relação entre a música e a terapia, conto agora a história de André de 79 anos, filho de imigrantes italianos e que tem Parkinson há 20 anos e nos últimos 2 anos está bem esquecido dos assuntos do cotidiano, suas lembranças hoje remetem à histórias que seu pai contava. É tratado com medicação específica para Parkinson, mas há 4 anos a medicação não está fazendo o efeito desejado e André está ficando cada vez mais paralisado. Avaliei André há um mês e ele começou a falar em uma voz trôpega histórias de Trento na Itália. Fatos que seu pai contava quando ele era criança, contou que seu pai foi coroinha na grande Igreja de Trento no final do século XIX na Itáia. Contou que seu avô tinha terras nesta região. Contou que sua mãe era da cidade de Ferrara, falou com facilidade da localização geográfica das duas cidades e parecia que conheceu as terras italianas que só ouviu pela boca dos pais. Contou que seu pai lia livros de Julio Verne e cantava valsas e músicas italianas com os irmãs. Brinquei com sua esposa que André sofria de saudadite de uma Itália que não conheceu.
Hoje André chegou ao Centro Dia de Idosos que trabalho no período da tarde. Veio andando com muita dificuldade com sua bengala e com um tremor muito acentuado. Ao sentar fica paralisado e seu tronco pende para o lado esquerdo, onde fica quase imóvel nesta posição. Constantemente os funcionários do centro de idosos o posicionam, mas logo ele volta para mesma posição. Se ninguém chega perto para conversar, ele permanece calado em sua posição congelada.
Hoje usamos o ipod e André ouviu chorinhos, óperas, músicas de Bach e Mozart. Depois de colocar a música e deixá-lo ouvindo óperas de Mozart por 10 minutos. Pedi para André levantar. Ele teve alguma dificuldade, mas andou sem a bengala, movimentou os braços e percebia que seu tremor diminuia muito em algumas músicas. Em uma delas o resultado foi mais acentuado e André andou com desenvoltura e falou com uma voz mais firme e fácil de entender ao escutar Alla Turca tocado pelo "Choro das Três".
Depois depois pediu para ouvir "Carinhoso", comentou da doçura da flauta e falou que estava sentindo seu corpo pela primeira vez em anos. "Eu achava que já não tinha um corpo, agora com a música, sintoi meus pés, pernas e mãos" falou isso ao mesmo tempo que mexia as partes do corpo e ouvia Pixinguinha tocando "Carinhoso".
quarta-feira, 4 de março de 2009
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