terça-feira, 26 de maio de 2009

É brincando que se aprende... (texto de Rubem Alves)

No meu tempo parte da alegria de brincar estava na alegria de construir o brinquedo. Fiz caminhõezinhos, carros de rolemã, caleidoscópios, periscópios, aviões, canhões de bambu, corrupios, arcos e flechas, cataventos, instrumentos musicais, um telégrafo, telefones, um projetor de cinema com caixa de sapato e lente feita com lâmpada cheia d’água, pernas de pau, balanços, gangorras, matracas de caixas de fósforo, papagaios, artefatos detonadores de cabeças de pau de fósforo, estilingues.

Fazendo estilingues desenvolvi as virtudes necessárias à pesquisa: só se conseguia uma forquilha perfeita de jaboticabeira depois de longa pesquisa. Pesquisava forquilhas - as mesmas que inspiraram Salvador Dali - exercendo minhas funções de ´controle de qualidade´ - arte que alguns anunciam como nova mas que existiu desde a criação do mundo: Deus ia fazendo, testando e dizendo, alegre, que tinha ficado muito bom. Eu ia comparando a infinidade de ganchos que se encontravam nas jaboticabeiras com o gancho ideal, perfeito, simétrico, que existia em minha cabeça. Pois ´controle de qualidade´ é isso: comparar o ´produto´ real com o modelo ideal. As crianças já nascem sabendo o essencial. Na escola, esquecem.

Os grandes, morrendo de inveja mas sem coragem para brincar, brincavam fazendo brinquedos. As mães faziam bonecas de pano, arte maravilhosa hoje só cultivada por poucas artistas. As mães modernas são de outro tipo, sempre muito ocupadas, correndo prá lá e prá cá, motoristas, levando as crianças para aula de balê, aula de judô, aula de inglês, aula de equitação, aula de computação - não lhes sobra tempo para fazer brinquedos para os filhos. ( Será que as crianças de hoje sabem que os brinquedos podem ser fabricados por eles?). Hoje, quando a menina quer boneca, a mãe não faz a boneca: compra uma boneca pronta que faz xixi, engatinha, chora, fala quando a gente aperta um botão, e é logo esquecida no armário dos brinquedos. Pobres brinquedos prontos! Vindo já prontos, eles nos roubam a alegria de fazê-los. Brinquedo que se faz é arte, tem a cara da gente. Brinquedo pronto não tem a cara de ninguém. São todos iguais. Só servem para o tráfico de inveja que move pais e filhos, como esse tal ´bichinho virtual...´

Fiquei com vontade de fazer um sinuquinha. Naquele tempo não havia para se comprar. Mesmo que houvesse não adiantava: a gente era pobre. Como tudo o que vale a pena nesse mundo, a fabricação começava com um ato intelectual: pensamento: quem deseja pensa. O pensamento nasce no desejo. Era preciso, antes de construir o sinuquinha de verdade, construir o sinuquinha de mentira, na cabeça. Essa é a função da imaginação. Antes de Piaget eu já sabia os essenciais do construtivismo: meu conhecimento começava com uma construção mental do objeto. Diga-se, de passagem, que o homem vem praticando o construtivismo desde o período da pedra lascada. Piaget não descobriu nada: ele só descreveu aquilo que os homens ( e mesmo alguns animais ) sempre souberam.

Era preciso uma táboa larga e plana, flanela, madeiras e borracha de pneu de bicicleta para as tabelas; as caçapas seriam feitas de meias velhas. As bolas, de gude. Os tacos, cabos de vassoura. Preparei-me para fabricar o objeto dos meus sonhos. Meu pai, que era viajante, estava em casa naquele fim de semana. Ofereceu-se para me ajudar, contra a minha vontade. Valendo-se de sua autoridade, tomou a iniciativa. Pegou do serrote e pôs-se a serrar os cantos da tábua, no lugar das caçapas. Meu pai operou com uma lógica simples: se um buraquinho pequeno, que mal dá para passar uma bolinha, dá um ´x´ de prazer a uma criança, um buraco dez vezes maior dará à criança dez vezes mais prazer. E assim pôs-se a serrar buracos enormes nos ângulos da tábua. Eu protestava, desesperado: ´ - Pai, não faz isso não!´ Inutilmente. Confiante no seu saber ele levou a sua lógica até as últimas consequências. Fez o sinuquinha. Só que nunca joguei uma única partida com os meus amigos. Por uma simples razão: quem começava o jogo encaçapava todas as bolinhas. Com buracos daquele tamanho, não tinha graça. Era fácil demais. A facilidade destruiu a alegria do brinquedo. A alegria de um brinquedo está, precisamente, na sua dificuldade, isto é, no desafio que ele apresenta.

Deliciei-me com uma estoria do ´Pato Donald´. O professor Pardal, cientista, resolveu dar como presente de aniversário ao Huguinho, Zezinho e Luizinho, brinquedos perfeitos. Fabricou uma pipa que voava sempre, mesmo sem vento. Um pião que rodava sempre, mesmo que fosse lançado do jeito errado. E um taco de beisebol que sempre acertava na bola, mesmo que o jogador não estivesse olhando para ela. Mas a alegria foi de curta duração. Que graça há em se empinar uma pipa, se não existe a luta com o vento? Que graça há em fazer rodar um pião se qualquer pessoa, mesmo uma que nunca tenha visto um pião, o faz rodar? Que graça há em ter um taco que joga sozinho? Os brinquedos perfeitos foram logo para o monte lixo e os meninos voltaram aos desafios e alegrias dos brinquedos antigos.

Todo brinquedo bom apresenta um desafio. A gente olha para ele e ele nos convida para medir forças. Aconteceu comigo, faz pouco tempo: abri uma gaveta e um pião que estava lá, largado, fazia tempo, me desafiou: ´ - Veja se você pode comigo!´ Foi o início de um longo processo de medição de forças, no qual fui derrotado muitas vezes. É preciso que haja a possibilidade de ser derrotado pelo brinquedo para que haja desafio e alegria. A alegria vem quando a gente ganha. No brinquedo a gente exercita o que Nietzsche denominou ´vontade de poder´.

Brinquedo é qualquer desafio que a gente aceita pelo simples prazer do desafio - sem nenhuma utilidade. São muitos os desafios. Alguns são desafios que tem a ver com a habilidade e a força física: salto com vara, encaçapar a bola de sinuca; enfiar o pino do bilboquê no buraco da bola de madeira. Outros tem a ver com nossa capacidade para resolver problemas lógicos, como o xadrez, a dama, a quina. Já os quebra-cabeças são desafios à nossa paciência e à nossa capacidade de reconhecer padrões.

É brincando que a gente se educa e aprende. Cada professor deve ser um ´magister ludi´¸ como no livro do Hermann Hesse. Alguns, ao ouvir isso, me acusam de querer tornar a educação uma coisa fácil. Essas são pessoas que nunca brincaram e não sabem o que é o brinquedo. Quem brinca sabe que a alegria se encontra precisamente no desafio e na dificuldade. Letras, palavras, números, formas, bichos, plantas, objetos (ah! o fascínio dos objetos!), estrelas, rios, mares, máquinas, ferramentas, comidas, músicas - todos são desafios que olham para nós e nos dizem: ´Veja se você pode comigo!´ Professor bom não é aquele que dá uma aula perfeita, explicando a matéria. Professor bom é aquele que transforma a matéria em brinquedo e seduz o aluno a brincar. Depois de seduzido o aluno, não há quem o segure.

Professor bom não é aquele que dá uma aula perfeita, explicando a matéria. Professor bom é aquele que transforma a matéria em brinquedo e seduz o aluno a brincar. Depois de seduzido o aluno, não há quem o segure.

Para saber mais sobre Rubem Alves clique aqui.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

A diversão de brincar e contar histórias em um hospital

O programa Caminhos Alternativos da rádio CBN apresentou no sábado uma excelente matéria sobre o uso do brincar e da contação de histórias em um hospital dia para crianças com distúrbios mentais no Hospital das Clínicas em São Paulo.
Clique aqui para escutar o programa na íntegra.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Brincadeiras Tradicionais e contemporâneas

O resgate do brincar passa necessariamente pela oportunidade de conhecer as brincadeiras tradicionais, das gerações anteriores à nossa – aquelas brincadeiras que aconteciam na rua, parques e praças, de forma espontânea, brincadeiras das diferentes regiões do país e de outras culturas.

Brincadeiras de Criança

Pieter Brueghel (1560)





Prova para as Células:

Fazer um vídeo de 1 a 2 minutos de duração com os temas falado abaixo.

Dicas para filmar, ficar com a câmera o mais parado possível observando a brincadeira da criança, ficar com a câmera na mesma altura que as crianças estão brincando.

Se não encontrar crianças que saibam fazer a brincadeira, ensine, experimente...

Sempre pedir autorização para os responsáveis pelas crianças para fazer a filmagem.

Leve de uma forma que vc possa mostrar no dia da gincana (vale celular, pen drive, cd, dvd). Poderá também ser publicado no youtube e ser enviado por e-mail (será publicado no blog).

Nayara – Bete – Cris: filmar uma criança ou mais jogando jogo das 5 marias (trinhola, jogo das pedrinhas).

Tati Negri – Fabi, Mirela – Camila R.: filmar crianças brincando de amarelinha.

Gisele – Melina – Willian – Ligia: filmar crianças brincando de corre cotia.

Marcela – Bruna – Aline – Débora: filmar crianças brincando de pula mula.

Marta – Neia – Sonia – Magna: filmar duas crianças jogando com o jogo da cama de gato

Agda, gislaine, Zélia, Jaqueline: filmar crianças jogando taco.

Lais, Rafaela, Jussara, Camila: Filmar crianças brincando de cabo de guerra.

Dayse, Priscila, Diana, Tathiana Salmaso: filmar crianças soltando pião

quinta-feira, 21 de maio de 2009

1ª Gincana de Terapia Ocupacional do Unianchieta

Esta Gincana faz parte da disciplina Dinâmicas e Abordagens Grupais em Terapia Ocupacional do 5º período de TO do Unianchieta. É uma fórmula dinâmica e motivadora para atingir os objetivos curriculares e desenvolver a capacidade de iniciativa e criatividade dos alunos. 
A gincana inicia pela internet no dia 21 de maio e vai até o dia 4 de junho de 2009. Nos dias 28 de maio de 4 de junho de 2009 realizaremos as provas no período da manhã no campus da Unianchieta.
Dividiremos os alunos em 7 células de 4 alunos e uma célula de 3 alunos. 
Depois juntaremos duas células e formaremos 3 grupos de 8 e um de 7 alunos. Esta fórmula é para trabalhar com a idéia de cooperação com pessoas diferentes e variadas, desenvolvendo assim a capacidade de adaptação a novas situações.
Existirão provas para células e outras provas para os grupos.
A organização dos grupos será feito sempre juntando o primeiro colocado com o último, o segundo com o sétimo, o terceiro com o sexto, o quarto com o quinto na hora que realizar a prova.
A pontuação será sempre 3 pontos para o primeiro colocado na prova, 2 para o segundo, 1 para o terceiro e 0 (zero) para os demais. Terão provas de cumprir a tarefa que será pontuada com 1 para quem cumprir e 0 (zero) para quem não cumprir.
Existirão provas especiais (missão impossível e outras que terão pontuação especial e que será divulgada antes da realição das provas).
Faremos provas diárias que serão divulgadas no canal de vídeo online deste blog e enviadas por e-mails para os representantes de cada célula.
Adequações técnicas nestas normas poderão ser feitas pela equipe de organização e será postada neste blog com antecedência e divulgado para todos os alunos.
Boa sorte para todas as células (equipes) participantes.
Use o espaço de comentários deste blog para tirar suas dúvidas sobre a gincana. Os e-mails para a organização (pompeuesilva@gmail.com) deverão ser enviados sempre pelo capitão da célula.

sábado, 16 de maio de 2009

Heliana Contadora de Histórias

 

Heliana Castro Alves é Contadora de Histórias e Terapeuta Ocupacional com aperfeiçoamento em arte-terapia. Ao entrar na faculdade, começou a contar histórias através de uma ONG que trabalhava com crianças em situação de vulnerabilidade social. Desde então, não parou mais, variando seu público e os espaços onde ocorrem as narrativas - livrarias, bibliotecas, escolas, eventos.
No mestrado, trabalhou contos de fadas com crianças vítimas de violência, o que possibilitou unir a arte de contar histórias e encantar os seres humanos, com sua formação como terapeuta ocupacional. Atualmente é docente da Universidade Federal do Triângulo Mineiro e está desvendando os mistérios de Minas Gerais.
Heliana nos convida aqui a recontatarmos com a velha bruxa sábia que habita a alma feminina, presente nas histórias populares, e que nos chama a sonhar...

E, no seguimento, uma linda história de sua autoria para ilustrar na prática toda essa magia...
 
A arte de contar histórias: resgate do universo
feminino e poético na sociedade contemporânea

Gostaria de começar este artigo sem as armaduras da cientificidade e sem a completa arbitrariedade da conversação vã. Falar sobre histórias - e, em especial, sobre a história das mulheres durante os séculos na sacra atividade de tecer fantasias imaginárias no cotidiano dos seres humanos - requer, antes de tudo, uma nova roupagem, um novo cenário, um novo jeito de ver o que sempre foi visto.
Convido os leitores de Absoluta para um novo universo onde reinam sapos voadores, ninfas mágicas, florestas misteriosas, ogros devoradores e magos perversos, e, não obstante, para seu próprio viver cotidiano. Para tanto, peço que cada um simplesmente se imagine na varanda de uma grande casa de campo, ouvindo as cigarras e sentindo o frescor de uma noite de verão; ou ainda sob o pé de uma lareira quente em dias de inverno rigoroso, ou (por que não?) perto de uma fogueira ao som de um violão, observando estrelas no céu. Estes são cenários necessários para se compreender o universo feminino que se construiu junto à doce e sagrada atividade de contar histórias, ao longo dos séculos.
"Era uma vez...": a porta de entrada para o imaginário se escancara e todas as possibilidades de sentir começam a se abrir para uma nova existência. Quantas histórias ouvimos antes de dormir durante nossa infância? Éramos embalados por braços afetivos, geralmente femininos (mesmo em corpos de homens), e adormecíamos nas entrelinhas dos contos que encantavam nossos sonhos. Não sabemos exatamente o que acontece, mas acontece: uma certa magia se instala quando abrimos esta porta para o imaginário. Por quê? Porque através das histórias podemos encontrar elementos metafóricos que nos remetem à nossa essência, à nossa origem, à nossa natureza interior.

A mulher moderna e sua bruxa interior - A alma feminina é retratada nessas histórias em formas de heroínas que atravessam florestas para buscar o fogo de Baba Yaga (*), que sobrevivem à perversidade de madrastas, que fogem de um destino cruel ao lado de um marido assassino de barba azul, que desafiam reis através da inteligência. A partir das histórias, encontramos valores universais que nos alertam contra um mundo que aprisiona a alma da mulher numa armadilha hostil: a sociedade moderna e patriarcal, que insiste em afastar duramente a mulher dos próprios instintos. Clarissa Pinkola Estes nos conta histórias de "mulheres que correm com os lobos": não desistem de sua natureza instintiva sobrevivendo num mundo cheio de artimanhas que tenta domesticar a alma feminina, afastando-a da arte, de si mesma, afastando-a, em suma, da seiva da sua rica vida interior.
Todas as mulheres já passaram por fases em que se sentem vazias, deprimidas, mergulhadas numa vida sem sentido, exercendo um trabalho sem significado, com um marido ou chefe que não as valoriza. Sentem-se como que morrendo, todos os dias: suas vidas se esvaindo num conta-gotas, gota por gota. E pensam que o erro é delas: não são bonitas o suficiente (porque nossa sociedade consumista trata a mulher como um objeto decorativo ao lado dos carros de marca), porque não são inteligentes o suficiente (e deixam que seus chefes ou diretores roubem sua criatividade), ou porque não têm o suficiente (carros, casa, roupas). E assim vai... As histórias falam diretamente a essas mulheres. Ensinam que o importante é SER e não TER. E "ser" na sua essência, florescendo na sua natureza selvagem.
Existe, dentro de cada uma de nós, uma velha bruxa anciã que tudo vê, tudo sente, tudo sabe. Ela nos alerta quando estamos em perigo falando-nos através de nossas fantasias, das nossas intuições, dos nossos sonhos, de nossa arte. Esta velha anciã se comunica conosco numa linguagem metafórica que habita nosso inconsciente mais arcaico e que reside, sobretudo, nos contos populares. Estes sobreviveram durante séculos e oferecem, gratuitamente, sabedoria para atravessar mares de problemas existenciais. Não é à toa que a maior parte dos contos era narrada por mulheres enquanto realizavam trabalhos manuais, como a costura, durante o desenrolar da noite - uma atividade por essência, feminina, tecida sob o luar. Estas mulheres eram velhas sábias e talvez ensinassem suas filhas e netas a sobreviverem diante de um mundo que tentava se sobrepor à alma feminina.
A mulher moderna, ao acumular papéis e responsabilidades, não deve se esquecer da sua natureza arcaica, da sua anciã que a olha por dentro com tristeza ao vê-la sobrecarregar-se e desvalorizar-se. Não deve esquecer de si mesma nos seus afazeres sem sentido, e nem se deixar mortificar o corpo e a alma para seguir os padrões de um mundo patriarcal desejoso de seu aprisionamento. A mulher que emerge na contemporaneidade deve, sim, lutar por uma vida profissional, amorosa e familiar, satisfatória (...). Satisfatória?! Satisfatória, não... Enaltecedora, inspiradora, que a faça simplesmente buscar o céu estrelado, dar risadas soltas à noite, dançar ao luar; que a impele ainda na busca da arte para alimentar sua alma, poética por essência - mesmo que não escreva, pinte ou atue, e mesmo que isso tudo ocorra aos sabores dos ciclos. Deve buscar uma vida que valorize sua vida interior... uma vida que a faça sonhar. Às vezes, tudo o que precisa é ouvir essa velha sábia contar histórias, entre ecos do seu mundo interior. E florescer poesias em cada gesto e olhar. Esta mulher deve se permitir, enfim, ler contos que enriqueçam seus sonhos e que a lembrem dos desafios da sobrevivência, para que ela se torne, antes de tudo, a heroína de sua própria história.
A alma feminina que os contos retratam é a alma do mundo, que gera e acolhe a vida dos homens; é a alma que habita o interior de antigas e enormes montanhas inertes e o barulho incessante das ondas do mar quando chegam à praia. Esta alma precisa das histórias para se refazer todos os dias, no imaginário feminino e na incessante busca da paixão de viver.

(*) Baba Yaga é uma bruxa do folclore russo: come crianças e se desloca pelos ares usando um pilão mágico e um socador no lugar da vassoura; é muito poderosa mas não consegue atravessar água corrente. Em uma das histórias russas, Vassilissa, a bela, tem uma madrasta perversa que manda pegar o fogo da bruxa para que a casa possa ficar iluminada. A heroína passa por uma série de provas e retorna vitoriosa.

Princesa
Para a princesa solitária que habita meu universo feminino

“Era uma vez uma princesa encantada que tinha nos cabelos verdes o brilho orvalhado de todas as florestas do mundo.
Era outra vez essa mesma princesa encantada. Tinha os lábios azuis, como se guardasse os sete oceanos do planeta. Ao acordar, pela manhã, saciava a sede do universo. Seus olhos eram vermelhos como fogo e sua tez de todas as cores imagináveis.
Ela era, porém, a mais solitária das criaturas.
Vagava pelo mundo, nua com seu corpo aéreo, e era invisível, tanto para os seres mais ínfimos, quanto para os seres mais colossais. Porque princesa não tinha tamanho. Era, apenas Era.
Deserta-se sem reino, sem pátria, sem voz.
Seus movimentos, leves como pensamentos.
O ventre feito de terra cheirando chuva.
E asas voláteis de sonhos inacabados.
Caminhava pelas montanhas livre e silenciosamente.
Seu silêncio vigiava a noite e contava segredos para as estrelas piscantes. Mortalmente silenciosa. Olhar vago, amplo de oceanos profundos.
Algumas vezes, princesa adormecia deitando-se sobre as formas das montanhas que a abraçavam como extensas almofadas acolhedoras.
As velhas anciãs acobertavam seu corpo com o sussurro dos ventos uivantes que, entre as árvores, entoavam melodiosas canções de ninar. Engravidava de sonhos.
Outras vezes, porém, sua alma etérea a guiava para dentro do pólen da mais pequena flor, ou para o quebranto de uma fonte de águas termas.
Ela podia se moldar à uma pedra ou às asas de um pássaro, mas sua alma estava sempre livre e silenciosa, habitando um universo insondável, cercado de mistério, sombra e luz.
Era uma vez, e será sempre,
um lugar,
uma princesa,
uma mulher,
uma forma de luz que gere, pari, verte leite e morre todos os dias para depois renascer,
em cada pôr-do-sol,
no silêncio da noite,
procriando humanidades”.

 
Heliana Castro Alves
Contadora de Histórias e Terapeuta Ocupacional com aperfeiçoamento em arte-terapia; mestre em educação especial pelo PPGEE; docente da UFTM.
helianasol@gmail.com
SÃO CARLOS/SP
Fotos
Heliana Castro Alves

publicado originalmente em:
http://www.absoluta-online.com.br/conteudo_yinsights_artigos_contadoradehistorias.html
 

terça-feira, 12 de maio de 2009

Site com informações sobre esquizofrenia

O Site do Programa de Esquizofrenia da Unifesp tem muitas informações que podem ser úteis para portadores de esquizofrenia, familiares e profissionais da área.
Você pode fazer o download gratuito da série livros Conversando sobre a Esquizofrenia.
Pode encontrar relatos como o que trago abaixo:

Todo Problema Tem Sua Solução
W.B.S.

Antes dos meus 16 anos levava uma vida normal, de repente percebi algo estranho comigo, pois estava eu em um momento de tristeza profunda assistindo TV, quando tive a impressão da televisão estar conversando comigo e dizendo que eu estava sendo filmado.

No começo achava que eu estava ficando louco, pois como a TV podia conversar comigo. Depois disse aos meus pais o que estava acontecendo, eles como eu acharam estranho. Quando depois meus pais se informaram, e descobriram que eu estava com uma doença mental chamada de esquizofrenia.

Então depois ao saber o nome da minha doença que era esquizofrenia eu procurei me informar, sobre a doença. Pois procurando na Internet sobre a doença descobri que estava com delírios e alucinações.

Então minha mãe resolveu me levar ao psiquiatra, e descobri que eu podia parar de escutar vozes e parar com os demais surtos psicóticos com os remédios (antipsicóticos).

O pior para mim não foram as alucinações e nem os delírios e sim o estigma, pois os amigos me deixaram de lado assim me sentindo rejeitado comecei a me isolar, e toda as pessoas me chamando de louco.

Assim quando eu estava em surto fechei a matricula da faculdade que entrei, pois não tinha condições de continuar a faculdade. Eu estava apavorado e inseguro, pois achava que não tinha condições de trabalhar e pensava que ia virar mendigo.

Quando sem saber, o que tinha que fazer resolvi escrever um livro sobre a minha doença (a esquizofrenia), lá tentei contar todos os sintomas da doença, o nome do livro era “Reflexões de Giovani”. E na escrita do livro me ajudou a ver melhor o que acontecia comigo que estava em meu e inconsciente que coloquei em meu livro.
Mas também percebi que não estava sozinho pois, a minha mãe e meu pai estavam ao meu lado assim me levando no psiquiatra, pois não tinha condições de ir sozinho por causa do surto.

Eu também por causa da doença me sentia limitado. Quando passou no cinema o filme “UMA MENTE BRILHANTE”. Que mostrava um grande matemático esquizofrênico que recebeu o premio “NOBEL”. Depois de assistir este filme percebi que a doença não limitava a inteligência.

E cheguei a conclusão que não era louco era apenas os sintomas da doença. Lembro quando estava no corredor esperando meu psiquiatra me chamar, vi no mural um cartas anunciando sobre a palestra sobre esquizofrenia. Lá na palestra entendi melhor o que estava acontecendo comigo.

Mas mesmo assim eu enfrentava algumas dificuldades, minha mãe achou melhor me por em uma psicóloga. O nome dela era Silvana, ela a Silvana me fez ficar mais seguro, e me ajudou a resolver meus problemas.

Eu preocupado em me virar sozinho por causa da doença resolvi ir sozinho aos meus compromissos (psicóloga e ao psiquiatra). E então percebi que eu era capaz. Mas estava preocupado em arrumar trabalho por causa da doença e cheguei a conclusão que não podia trabalhar, pois estava em crise, assim como não consegui acabar a faculdade. Então resolvi ser escritor, pois ser escritor não precisava ter um horário fixo a cumprir no trabalho, era só ter no mínimo caderno e um lápis e assim inspirado escrever e escrever.

E depois fiquei sabendo de um grupo de apoio com a TO chamada Fernanda. Lá tinha pessoas como eu (portadores de esquizofrenia), neste grupo senti apoio de todos tanto da TO quanto dos portadores, pois estava interessado em resolver meus problemas.

Hoje depois de tanto trocar de remédio acabei me acertando com Leponex, levo uma vida normal ainda escuto algumas vozes mas diminuiu a intensidade, depois escrevendo livros percebi que toda a dificuldade tem sua solução,e que todas elas temos que superar por mais difícil que seja.

sábado, 9 de maio de 2009

O estágio de terapia ocupacional no CAPS-Várzea Paulista


Estamos há 2 meses e pouco com 6 estagiários de terapia ocupacional no CAPS Várzea Paulista.
Hoje vamos postar um vídeo da inauguração do nosso laboratório de atividades e terapia ocupacional que é realizado em parceria com a UNIANCHIETA, o CAPS Várzea e a secretária de cultura de Várzea paulista.
Nesta inaguração tivemos a presença do grande artista Eufra Modesto que cantou músicas de Gonzagão e Renato Teixeira e nos presenteou com um causo.